A Parashat Matot (מַטּוֹת), começa com D-us dando instruções a respeito da tomada dos votos (Nedarim). Após isso, os israelitas foram ordenados a travar uma guerra contra os Midianitas pelo ocorrido em “Ba’al Peor.” Durante a batalha que se seguiu, o profeta Bil’am (Balaão) foi morto, bem como os cinco reis tribais da terra de Midiã. (Números 30:2-36:13)
A segunda porção, Parashat Massei (מַסְעֵי), fornece as fronteiras da terra de Canaã, que deviam ser inicialmente ocupadas pelos filhos de Israel.
Observe que essas fronteiras não são as mesmas que foram descritas e dadas anteriormente para Abraão (veja Gênesis 15:18-21), uma vez que esta área será dada a Israel somente após a vinda do Messias para estabelecer Zion (ציון) durante o Reino Milenar (veja Ezequiel 47: 15-48:35).
Durante esse tempo, Jerusalém (ירושלים) será o centro mundial e terá o nome de “Adonay Shamá” (יְהוָה שָׁמָּה) – “Adonay está lá“.
Desde que o livro de Deuteronômio é o “Mishnê Torá” (מִשְׁנֶה תוֹרָה) – uma “releitura da Torá” (embora haja instruções novas em Deuteronômio), “pode-se dizer que a Torá de Moisés termina com estas porções finais e, por extensão, com o anseio contínuo por Zion (ציון)”…
No caso da guerra contra Midiã, Moisés tem um conflito pessoal, nós devemos primeiro lembrar que o próprio Moisés (משה) tem uma estreita ligação com os Midianitas, pois sua esposa é uma deles. E devemos ainda ter em mente que Moisés entende que no momento do cumprimento desse mandamento ele mesmo vai morrer. Como D-us diz claramente: “Vinga os filhos de Israel contra os Midianitas, depois disso você será reunido aos seus antepassados” (Números 31:2).
O Rabino Rashi (1040-1105 França) observou que as próximas palavras são “E Moisés falou aos filhos de Israel…” Mesmo ao ouvir que sua morte estava amarrada ao ato, ele realizou suas ordens sem demora. Isso quer dizer que, mesmo no último momento de sua vida, com a sua própria morte a espreita, Moisés coloca prioridades comuns à frente da sua própria.
Tudo isso está enraizado na abertura da Parashá, com o mandamento (מצוות) que se alguém fizer um voto; “não poderá quebrar a sua palavra, mas terá que cumprir tudo o que disse” (Números 30:2).
Quando juramos, quando fazemos uma promessa, nós nos comprometemos a algo maior do que nós. O nosso mundo privado é agora uma parte de um mundo maior por meio da linguagem. Como os israelitas estão prestes a atravessar para a terra de Canaã, este é o tema principal da Torá. Tudo se resume em manter a nossa palavra e viver em responsabilidade para com o próximo.
“Se um homem fizer voto (ou seja, Neder: נֶדֶר)…, ou fizer um juramento (ou seja, Shevuá: שְׁבוּעָה) não poderá quebrar a sua palavra... A expressão hebraica “quebrar sua palavra” significa literalmente “profanar a sua palavra” (יַחֵל דְּבָרוֹ), isto é; profanar a alma, fazendo com que a psique seja dividida interiormente, irresoluta, e acovarda.
Afinal, quebrar a nossa palavra significa violar a integridade de quem somos, mostrando que o que nós dizemos e o que somos não estão unificados, e isso trás danos futuros a alma. Nossas palavras devem confessar a nossa realidade e trazê-la à vida… Se não podemos manter nossa palavra, nossa palavra se torna profana, vazia, fugaz. Deixemos o nosso “sim”, ser “sim” e o nosso “não” ser “não”; devemos aprender a dizer o que queremos dizer e dizer o que dizemos.
Pois, as palavras que dizemos, sejam boas ou ruim ou despercebida, exige uma resposta no “reino do espírito”. Isto é sugerido pela palavra hebraica para “coisa”, ou seja, Davar (דָּבָר), que também significa “palavra”. As nossas verbalizações internas, palavras boas ou ruins, nossos pensamentos murmurantes, devem ser compreendidas que elas são Devarim (דְּבָרִים), “coisas” e que estão moldando e definindo o rumo da nossa vida agora.
Portanto, nos foi instruído: “Mais do que tudo, guarda o teu ‘coração’ (emoções, pensamentos sentimentos), porque dele são as ‘fronteiras da vida’ (תּוֹצְאוֹת חַיִּים). Afaste da sua boca as palavras perversas; fique longe dos seus lábios a maldade.” (Provérbios 4:23-24).
Nossas verbalizações internas e palavras proferidas são, em última análise “orações” estamos constantemente ofertando… Na verdade, como pensamos determina a “habitação” da nossa vida. E uma vez que os nossos motivos internos determinam o nosso pensamento, temos de aprender a nos concentrarmos no que é digno. Portanto, “Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Adonay, minha Rocha e meu Resgatador! ([יהוה צורי וגאלי] Adonay Tzuri ve’Goali)” (Salmo 19:14).
De acordo com os nossos Sábios, a Tzara’at (ou seja, a “doença [lepra] espiritual”) é a punição por causa da maledicência – “Lashon haRá” (לָשׁוֹן הָרָה).
Usar discurso enganoso é “espiritualmente” perigoso, e, portanto, uma virtude fundamental da alma saudável é a prática de Shemirat haLashon (שְׁמִירַת הַלָּשׁוֹן), ou seja, “refrear a língua”.
Como foi ensinado: “… Quem de vocês quer amar a vida e deseja ver dias felizes? Guarde a sua língua de maledicências e os seus lábios da falsidade…” (Salmo 34:11-14). Isto implica que a nossa paz interior é conectada com a nossa intenção e o uso das palavras.
Conscientemente abstendo-se de Lashon haRá (maledicência, calunia e etc) expressa reverência e admiração diante da Presença Divina, enquanto o contrário indica espiritualidade baixa, um coração dividido, e uma depressão aguda. Nossas palavras devem ser utilizadas para reconstruir, edificar, e considerar os outros, não para derrubá-los.
Sê o primeiro