À luz do enigma da "impureza espiritual"
Shemirat HaLashon
שְׁמִירַת הַלָּשׁוֹן
De acordo com nossos os sábios, a Tzara’at (“lepra espiritual”) era um castigo para as maledicências da nossa boca, ou seja, lashon hará (לָשׁוֹן הָרָה).
Na literatura do Midrash (vasto e antiquíssimos comentários rabínicos), o lashon hará (לָשׁוֹן הָרָה) é considerado igual à adoração de ídolos, ou seja, Avodá Zará (עבודה זרה), as bestialidades sexuais (Levítico 20:11-23) e ao assassinato, e aquele que se entrega a lashon hará (maledicências, abuso verbal e etc.) contamina a boca de modo que mesmo as palavras da Torá e da oração estarão corrompidas. “Da mesma boca procedem às bênçãos e as maledicências; irmãos, estas coisas não deveriam ser assim” (Tiago 3:10).
Os sábios (החכמים) vão ainda mais longe em seus conselhos: “a lashon hará (לָשׁוֹן הָרָה) é como um massacre, assassinatos, homicídios, latrocínios, aquele que fala lashon hará (maledicências, abuso verbal e etc.) mata, rouba… três pessoas ou mais:. Quem fala, quem ouve, e aquele, de quem se é falado.”
Assim como um corpo pode ficar doente, assim pode a alma (Nefesh): ‘Eu disse, ‘Ó Adonay’ (יהוה), mostre-me favor (חנני); cure minha alma (רְפָאָה נַפְשִׁי), pois pequei contra ti’ (Salmo 41:4).
Da mesma forma, entendemos que o medo influencia a maneira como a mente (alma) processa imagens e mensagens. E uma vez que a alma e o corpo estão intrinsecamente interligados, o medo é muitas vezes a causa de muitos problemas fisiológicos, tais como doença cardíaca, pressão alta, depressão clínica, paranoias e outras doenças. Se nada for feito, o medo pode ser mortal.
Observe a conexão entre o medo, lashon hará (maledicências, abuso verbal, fofocas e etc.), e a doença (Tzara’at), que são temas da porção de leitura pública desta semana da Torá nas Sinagogas – Levitico 12:1-…
No targum Onkelos descreve que D-us (אלוהים) soprou em Adão (אדם הראשון) a capacidade de pensar e falar. Em outras palavras, o pensamento e a linguagem são duas características principais da imagem (tzelem) e semelhança (demut) de D-us (אלוהים).
Desde que o nosso uso das palavras está diretamente ligado ao ‘sopro de D-us (נשמת אלוהים)’ dentro de nós, então a lashon hará (לָשׁוֹן הָרָה) desfigura a imagem de D-us dentro de nós… Usando palavras para infligir dor, destruir, rebaixar, humilhar…, portanto, perverte a imagem de D-us, já que D-us criou os seres humanos para usar a linguagem para “construir, elevar…” o próximo. Isto é parte da razão da qual um Metzorá (ou seja, uma pessoa afligida com a tzara’at) era (ou é) considerado como “morto” e na grande necessidade de renascimento (cura).
Lashon hará (לָשׁוֹן הָרָה), ou seja, maledicências, abusos verbais e etc. é realmente um sintoma do “olho mau” (Ayin hará). “O mal vem para quem procura (דָּרַשׁ) por ele” (Provérbios 11:27). Temos que treinar-nos para usar o “olho bom” (Ayin Tová) e estender a kaf zechut (כף זכות)- a “mão do mérito” para os outros. Ou seja, dar o benefício da duvida.
A Emuná (fé) genuína é otimista e envolve hakarat Tová (הכרת תודה), isto é; gratidão, sermos gratos aos outros nas circunstâncias da vida. Gam zu le’Tová: “Isto também é para o bem” (Romanos 8:28).
Um Midrash (comentário rabínico) ensina que D-us aflige as casas com a Tzara’at (צרעת) para que o tesouro escondido dentro das paredes seja descoberto. O que os rabinos queriam mostrar é que o ‘olho bom’ (עין טובה) encontra “tesouro escondido” em cada pessoa e experiência no decurso da vida, sejam experiências ruins ou boas.
O rei Davi disse (Salmo 35:13): “e orava de cabeça sobre o peito!” (Literalmente, ve’tefillati alCheki tashuv { ותפלתי על חיקי תשׂוב}- “possa retornar no meu próprio peito”).
Algumas de nossas orações são palavras conscientes faladas a D-us, enquanto outras são expressões inconscientes de nossas atitudes, do nosso “coração interior”. Quando abrigamos indiferença, má vontade, ou falta de perdão para com os outros, só estamos prejudicando a nós mesmos.
É muito decepcionante perceber que os nossas verbalizações internas são essencialmente orações que estão sendo oferecidas a D-us… Quando buscamos o bem nos ou do outros, encontramos o favor de D-us, (חסדו של האל) cura e vida. O Messias falou de “tesouros do coração” que produzem ações que são expressas em nossas palavras (Lucas 6:45).
À luz do enigma da “impureza espiritual” – טומאה (ou seja, tumá) e sua expressão máxima revelada na corrupção da morte, é ainda mais dizendo, nós devemos atender ao clamor do Espírito (רוח אלוהים): ‘Escolha a Vida’ (Deuteronômio 30:19). Escolher a ‘impureza’-Tamê (טָמֵא) é um tipo de “suicídio espiritual” que nos seduz a trocar o que é eterno pelo passageiro e trivial.
A Nachash (serpente, Satanás) no jardim do Éden (גן עדן), foi o primeiro a falar lashon hará (לָשׁוֹן הָרָה). Ele caluniou D-us e mentiu para Eva (חוה) sobre como discernir entre o bem e o mal. Ele é um assassino verbal e pai da falsidade…
Lashon hará (לָשׁוֹן הָרָה) é comparado ao “homicídio emocional” quando publicamente humilhamos uma pessoa, ou quando fazemos alguém passar vergonha em publico propositalmente. De acordo com a percepção dos Os sábios (החכמים), eles ensinam no Talmud que; o rosto da pessoa envergonhada ou humilhada publicamente fica pálido por causa da circunstância emocional e, portanto, a humilhação é chamada de Halbanat Panim (הלבנת פנים) – ‘Palidez’, ou seja, derramamento de sangue inocente. Portanto, os sábios identificam o Metzorá (ou seja, a pessoa com Tzara’at) como Hamotzi rá (המוציא רע) “aquele que espalha o mal ou a maldade”, e consequentemente os Sábios (החכמים) enfatizam a Shemirat HaLashon (שמירת לשון) “guardar a língua”, como uma virtude visceral da justiça.
Aqueles que pensam que é fácil controlar a língua, provavelmente nunca realmente tentaram fazer isso. “A língua é um pequeno membro, mas orgulha-se de grandes coisas” (Tiago 3:5-6). Em última instância, controlar a sua língua é uma questão de controlar os seus impulsos, seu coração, e sua atitude (Shemirat HaLev – שמירת הלב). (Tiago 1:19).
Embora a concepção da vida humana (ou seja, o nascimento) é considerada como um dos eventos maravilhosos, na Torá podemos ver que começa na impureza (טֻמְאָה), indicando que a vida natural por si só é insuficiente para alcançar a vida plena (João 3:7).
Assim lemos na nossa porção da Torá desta semana (Levitico 12:1-13:59) que o nascimento de uma criança resulta em impureza para a mãe que resultaria em uma expiação de sangue (Levitico 12:2-7). A nova mãe é tratada como uma Nidá (uma mulher com fluxo de sangue) e é considerada impura (isto é, Tamei, טָמֵא) por 40 dias (se for um menino) ou 80 dias (se uma menina).
Somente depois de fazer uma oferenda de sangue (por exemplo, um cordeiro, um pombinho ou uma rolinha) ela era declarada “limpa” (טָהֵר) pelos Cohanim (sacerdotes). Isso também aconteceu com Miriam (ou seja, Maria, a mãe de Yeshua) que cumpriu seus ‘dias de purificação’ e ofereceu os sacrifícios prescritos de acordo com a Torá (Lucas 2:22-24).
A Torá deixa claro que o sangue (דָּם) é usado como um meio de consagração, bem como um meio de obter expiação (כַּפָּרָה) com D-us. O sangue foi utilizado nas ombreiras das portas das casas no Egito para afastar julgamento e foi posteriormente usado para ratificar a aliança dada no Sinai (Êxodo 24:8). Todos os elementos do Mishkan (Tabernáculo) também foram “separados” pelo seu uso: o altar, o mobiliário diverso do Templo, os paramentos dos sacerdotes, e até mesmo os próprios sacerdotes foram santificados pelo sangue (Êxodo 29:20-21 , Hebreus 9:21).
Mas, objetivamente o sangue era usado para “fazer expiação” pela alma em cima do altar. (Levítico 17:11) Como na Torá diz claramente: “Porque a Alma do corpo está no sangue (כִּי נֶפֶשׁ הַבָּשָׂר בַּדָּם), e EU dei-o para você no altar para expiar (לְכַפֵּר) pelas as vossas almas, pois é o sangue que faz expiação pela Nefesh – Alma (כִּי – הַדָּם הוּא בַּנֶּפֶשׁ יְכַפֵּר). O sangue é, portanto, ligado à santidade da Alma (נֶפֶשׁ) através da morte sacrificial …

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