Vaikrá (וַיִּקְרָא) ‘E Ele chamou’

Vaikrá (וַיִּקְרָא) ‘E Ele chamou’

O primeiro verso (פסוק) de Vaikrá (Levítico) é geralmente traduzido: ‘E chamou o S-nhor a Moisés e falou com ele’, onde o sujeito do verbo Vaikrá (וַיִּקְרָא), ‘E Ele chamou’, tem um antecedente implícito, que se expresso ler-se-ia: “E chamou o S-nhor a Moisés e o S-nhor falou…”.
O texto hebraico nos rolos da Torá, um pequeno Alef (א) está escrito no final do verbo Vaikrá, no entanto, isto indica algo textual e de interesse gramatical, mas o significado desta letra escrita diferentemente pode mais coisas por trás do que podemos imaginar.

Embora o valor numérico da letra Alef (א) seja 1, e se soletrarmos a palavra ‘Alef’ (אלף), e combinarmos os valores de suas letras, chegamos a 111 – o número exatos de versos na Parashá Vaikrá (Levítico 1:1 a 5:26). Isto pode aludir ao fato de que a mensagem deste pequeno Alef (א) seja a mensagem essencial desta Parashá (porção de leitura semanal).
Se entendermos o ‘pequeno Alef’ (א), então podemos entender o conceito fundamental subjacente a todas as Parashiot (Porções) do Livro de Vaikrá (Levíticos).

O Tosher Rebe (Rabino Meshulam Feish Lowy) de Montreal, em sua obra Abodat Aboda, explicou que este é o simbolismo subjacente ao pequeno ‘pequeno Alef’ (א) no início do livro Vaikrá (Levíticos). Moshe Rabeinu (Moises) estava no nível alto de Kedushá (santidade), a mais alta estatura atingível por um ser humano. D-us instruiu Moises que, a fim de trazer os Filhos de Israel de volta para onde eles precisavam estar, ele teria que diminuir para que a luz divina que ele irradiava ficasse menor. Após o pecado do bezerro de ouro, os Filhos de Israel não poderiam receber imediatamente a luz divina mais brilhante. E, assim, D-us apareceu a Moshe Rabeinu (Moises) em um nível inferior de profecia, simbolizada pela letra pequena ‘Alef’ (א) escrita.

Isso explica os comentários de Rashi (1040-1105 França) para o primeiro pasuk (verso) do Sefer Vaikrá (Livro de Levítico), onde ele ensina que a palavra Vaikrá (וַיִּקְרָא) é um ‘Lashon Hiba’ – um termo que denota amor e carinho.
O Tosher Rebe explicou que todo o conceito da Parashá Vaikrá (Levítico 1:1 a 5:26), e vontade de D-us restaurar a Sua Shechiná (רוח הקודש) entre os Filhos de Israel, e é um grande ato de amor. Os Filhos de Israel trairam da pior maneira, adorando um ‘deus estrangeiro’ apenas algumas semanas depois de receberem a Torá no Sinai, e D-us ainda estava preparado para voltar para eles. D-us sempre nos dá a oportunidade de voltar e reparar nosso relacionamento com Ele. E D-us ainda garante que o processo vai se desenrolar no ritmo certo, passo a passo, para que seja eficaz.

É por isso que a letra ‘Alef’ (א) escrita menor que as outras nesta passagem encarna a essência da Parashá. O conceito subjacente Korbanot (Sacrifícios) é que temos a capacidade de restaurar o nosso relacionamento com Hashem (D-us), depois de cairmos.

O Livro de Levítico inteiro é um ‘Lashon Hiba’, uma expressão de grande amor de D-us, que está sempre preparado para nos receber de volta em Teshuvá, e está sempre preparado para nos ajudar ao longo deste processo.
Sobre os Sacrifícios, a Parashá apresenta as leis básicas da Korbanot, os sacrifícios que eram oferecidos no Beit HaMikadesh (Templo). Introduz nesta seção, afirmando, ‘Se uma pessoa (Adam) no meio de vós oferecer um sacrifício’ (אדם כי יקריב מכם קרבן) Levítico 1:2 . Rashi e outros comentaristas notaram o uso na Torá da palavra ‘Adam’ – אדם (“pessoa, humano, ser humano, Adão”) neste contexto.

Na Torá usa-se este termo, O Rabi Rashi (1040-1105 França) explica, para indicar que uma pessoa deve trazer um sacrifício da mesma forma que Adão (אדם) trouxe um sacrifício. Quando Adão (אדם) foi criado, toda a terra pertencia a ele. Portanto, quando ele trouxe um sacrifício, era, por definição, oferecido a partir de sua própria propriedade. Não havia nenhuma possibilidade de Adão (אדם) ter oferecido um animal roubado. Da mesma forma, um sacrifício deve ser trazido a partir daquilo que é de nossa propriedade para ser válido. D-us não tem interesse em ofertas trazidas de propriedade alheias ou roubadas. Uma pessoa não pode justificar a desonestidade e corrupção em transações comerciais com a doação de uma grande quantidade de seus ganhos para Tzedaká (caridade, doações). Temos de fazer Tzedaká (caridade, doações) assim como ‘Adam’ (אדם) trouxe seu sacrifício – de sua propriedade, que é claro e, sem dúvida, indica de nossa propriedade, obtido através de meios estritamente legais e éticos.

A alusão a ‘Adam’ (אדם) neste verso apresenta uma lição adicional, também. Quando Adão trouxe o seu sacrifício, ele o fez com sinceridade de coração. Não havia mais ninguém que ele quisesse tentar impressionar por este ato de devoção. Ele, obviamente, não estava dando um show; afinal de contas, não havia espectadores.

Esta é o principio descrito na Torá de como os Filhos de Israel deviam trazer sacrifícios e ofertas – e como nós devemos ser em todas as áreas da nossa prática de fé. (Mateus 6:1-6).
Devemos estudar a Torá e realizar as Mizvot com um desejo sincero de fazer a coisa certa, e não se mostrar na frente das pessoas uma aparência de piedade. D-us conhece as nossas verdadeiras intenções.

Mesmo se pensarmos que podemos enganar as pessoas, nós certamente não pode enganar o Todo-Poderoso. Por conseguinte, na Torá nos impele para trazer sacrifícios como Adão – com puras, sinceras intenções, e não por uma questão de boa aparência e ganhando o respeito dos que nos rodeiam.

Um certo rabino uma vez lamentou o fenômeno por demais comum que o apelidou de “Marranos às avessas”.
Durante o tempo da Inquisição Ibérica, havia muitos judeus que se vestiam e exteriormente agiam como cristãos, a fim de escapar das autoridades espanholas, mas eram estritamente Judeus observantes em privado, dentro de suas casas.
Hoje, infelizmente, há muitos judeus que fazem exatamente o oposto. Em privado, em casa, no trabalho e durante a viagem, eles são negligentes em sua observância da Torá e conduta ética. Mas na sinagoga e em eventos da comunidade, de repente, vestem-se como Ultra Ortodoxo e agem como piedosos e religiosos para impressionar seus as pessoas e ganhar respeito e admiração da comunidade.
Isso, certamente, não é o tipo de “sacrifício” que D-us quer. Este tipo de devoção é desonesta, falsa e patética. Como aludido na palavra ‘Adam’ (אדם) nesta passagem da Parashá, a nossa observância “religiosa” ser como a devoção de Adão, que não tinha ninguém para impressionar, ou provar nada pra ninguém além de D-us.

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