D-us dos espíritos
Korach (Coré) afirmava ser um “homem do povo” que buscava a igualdade e justiça para todos a qualquer custo, mas na verdade ele era usurpador que deseja minar a autoridade de D-us (através de Moises) e a verdade.
Como todos os hipócritas, Coré acusou Moisés daquilo que estava no seu próprio seu coração: ‘você foi longe demais! (רַב־לָכֶם)… toda a Congregação é Santa, cada um deles e o S-nhor está entre eles. Por que você se levanta acima da Congregação do S-nhor?’ (Num. 16:3).
Implícita na denúncia de Coré estava a rejeição da idéia de “escolhido”, e acima de tudo renegando a origem Divina da revelação da Torá. Afinal, se fosse verdade que o S-nhor estava igualmente entre todas as pessoas, certamente um modelo democrático (ao invés de teocrático) de governo seria melhor… Moisés, porém, claramente entendeu os verdadeiros motivos de Coré e, portanto, chamou os para um encontro de “lideres” para demonstrar a veracidade e a integridade do seu cargo e função.
A Parashá (porção) começa com as palavras; ‘E Coré tomou…’ וַיִּקַּח קרַח / (números 16:1). Os antigos sábios Observavam que este versículo não diz exatamente o que foi que Coré tomou. No Hebraico lê simplesmente, Korach Va’ikach… o que pode sugerir que Coré se ofendeu (não aceitou), e na verdade toda a porção pode ser considerada como um dos machloket (ou seja, מַחְלקֶת, contendas ou argumentos), que pode ser Le’shem Shamayim (por amor aos Céus –D-us) (ou seja, para discernir a verdade) ou Shelo Le’shem Shamayim, (não por amor aos Céus –D-us).
Na Mishná lê-se: ‘Qualquer machloket (discussão – contenda) travada por causa do amor aos Céus (no serviço de D-us) é digna. Qualquer machloket (discussão – contenda) que não é por causa do amor aos Céus não é digna. Qual polêmica foi um exemplo na qual estava sendo travada ao serviço de D-us? Era a controvérsia de Rabi Hillel e Rabi Shamai. E qual não era para D-us? Era a controvérsia de Coré e de todos da sua trupe’ (Talmud: Pikei Avot 5:20).
Note que o nome Korach (Coré) pode vir de um verbo que significa “rachar”, aludindo à divisão mais tarde que ele poderia expressar.
A Tradição judaica tende a considerar Coré um paradigmático, um “racionalista”, que ficou descontente a cerca dos decretos (leis não racionais) da Torá.
Por exemplo, um Midrash (comentário rabínico) diz que Coré discutiu com Moisés sobre o Techelet (Fio azul) nos Tzitzit (nas 4 franjas no manto) pedindo a Moisés que se uma peça de roupa foi feita inteiramente de fio azul, seria os Tzitzit ainda necessária para serem usados? Tal mandamento parecia ilógico, e, portanto, Coré o questionou. Nesse sentido, Coré representa o ponto de vista do racionalismo: ‘Compreendo para crer’, e não o contrário, ‘Crer para compreender’.
No comentário ‘Kol Dodi’ (Rav Soloveitchik 1903–1993 EUA) observa que as letras do nome Coré (ou seja, Korach, קרַח) podem ser organizadas para soletrar a palavra Choker (חקֶר), significando ‘analisar’.
Coré pensava que a mente humana era capaz de entender O Eterno (D-us), através da análise e da razão, em vez de através da fé e obediência…
O sopro de D-us…
Um versículo da porção da Torá desta semana (Números 16:1 á 18:32) revela outro grande nome de D-us: Elohei haRuchot lekol Basar (אֱלהֵי הָרוּחת לְכָל־בָּשָׂר), que pode ser traduzido ‘O D-us dos espíritos (sopros) de toda a carne (criaturas)’ (Números 16:22).
Hashem (D-us) é a fonte de nossa respiração (vida), aquele que exala em nós Nishmat Chayim (נִשְׁמַת חַיִּים), o ‘fôlego de vida’ que lhe permite viver (Jó 12:10).
Os nossos sábios usavam a analogia de um soprador de vidro que cria um recipiente de vidro para ensinar sobre a alma.
Assim como o vidreiro sopra num tubo para formar um vaso de vidro fundido, portanto a respiração (ou seja, Neshamah: נְשָׁמָה) que vem de D-us nas funções como espírito/sopro (i.e., Ruach: רוּחַ) que faz a alma humana (ou seja, Nefesh: נֶפֶשׁ). Observe que o nome IHVH (יהוה) aparece pela primeira vez neste contexto (Genesis 2:7), um nome que significa; ‘D-us está presente’ (Êxodo 3:14) e que ‘D-us é misericórdias e graça’ (Êxodo 34:6-7).
Observe também que as letras do nome IHVH (יהוה), cada uma representam sons de vogais (ou seja, respiração), sugerindo que o Espírito Santo de D-us está tão perto quanto sua própria respiração. Como o vento que não pode ser visto, mas sentido, que se move, que movimenta e etc., assim é o Espírito a parte essencial de sua identidade. (João 20:22).
De acordo com nossos sábios através das Escrituras a Alma é composta de 5 partes uma dentro da outra.
Yehidá
Hayá
Neshmá = Alma
Ruach
Nefesh
Para entender este conceito deve entender como o vidraceiro sopra sobre um recipiente de vidro.
O especial nome Elohei haRuchot lekol Basar (אֱלהֵי הָרוּחת לְכָל־בָּשָׂר) ‘D-us dos espíritos de toda criatura’ aparece apenas um outro lugar na Torá.
Depois de aceitar o fato de que ele iria morrer em breve e, portanto, seria incapaz de finalmente levar o povo a terra prometida (Israel),
Moisés rezou: ‘Que Adonay (יהוה); O D-us dos espíritos de toda criatura’ (אֱלהֵי הָרוּחת לְכָל־בָּשָׂר), nomeie um homem sobre a Congregação diante deles’… Então Adonay disse a Moisés; Tome Josué, filho de Nun – Yehoshua Bin Nun (יְהוֹשֻׁעַ בִּן־נוּן, lit.”filho da vida, fertilidade, semente… peixe”), um homem em quem está o Espírito/Sopro (רוּח), e coloque sua mão sobre ele’ (Números 27:16-18).
No Talmud relata-se que a palavra Nun (נוּן) significa ‘peixe’ (aramaico), um símbolo de vida e fertilidade e atividade. Josué, aquele escolhido que sucedeu Moisés e conduziu o povo na terra prometida, foi o “filho da vida” – uma imagem clara de Yeshua, nosso Messias o Filho do D-us vivente.
A centralidade do coração e a Parashá.
Toda a vida flui do coração, se é vida física ou “espiritual”. E assim como o coração físico fornece sangue e dá vida através das artérias para os vários órgãos do corpo, então nossa fé, ou o “coração espiritual”, fornece os meios de vida e de graça para os “órgãos espirituais”.
E assim como o coração físico pode ser obstruído ou bloqueado, então a fé pode tornar-se contraída e prejudicada, impedindo o fluxo livre da Presença Divina.
Portanto, desde que o coração representa o “motor” que sustenta a vida, é vital que atendemos às necessidades do coração, a fim de sermos pessoas saudáveis…
מִכָּל־מִשְׁמָר נְצר לִבֶּךָ
כִּי־מִמֶּנּוּ תּוֹצְאוֹת חַיִּים
Acima de tudo guarda o teu coração,
Pois dele procede às coisas da vida
(Provérbios 4:23).
Observe que a palavra hebraica Mishmar (מִשְׁמָר) refere-se ao ato de observar alguém de perto, assim como um guarda de prisão vigia um prisioneiro.
A frase traduzida ‘acima de tudo guarda’ (mikol mishmar) significa, literalmente; ‘mais do que qualquer coisa que pode ser guardada’ (ou protegida), e é usada aqui para intensificar o comando vigilante.
Colocar claramente este versículo em pratica significa vigiar (ou proteger) nosso coração mais do que qualquer outra coisa.
Entendemos que podemos errar em nossos afetos, e, portanto, o coração é facilmente dividido, obstruído e susceptível de avaria…
Apesar de sua fragilidade, no entanto, o coração determina os Totze’ot chayim (תּוֹצְאוֹת חַיִּים), ou os ‘problemas’ ou ‘as coisas’ da vida.
No Tanach (AT), a palavra Totze’ot é frequentemente usada para se referir as fronteiras dos territórios dos limites de uma cidade. Ou seja, este versículo está dizendo que do coração (Lev) de uma pessoa um “mapa” ou “gráfico” da vida é desenhado. Como o coração é puro ou corrompido, então vai ser o curso da vida… Como nós escolhemos guardar, observar, proteger o nosso coração vai determinar o caminho da nossa vida.
No que se refere neste versículo o comentário ‘Metzudos’ (Rav Shalom Shachna Altshuler) ensina: ‘acima de tudo – mais do que qualquer outra coisa – uma pessoa deve ser cuidadosa para proteger o seu coração de desejos impróprios, pois uma pessoa não pode contemplar usando o coração – o real vórtice da vida – ao abrigar pensamentos que são hostis à vida.’ Porque a carne é fraca, temos de estar vigilantes para não nos tornamos cínicos, cansados e insensíveis, egoístas, arrogantes, presunçosos. Um coração assim logo se torna problemático, solitário, maldoso e instável.
É nossa responsabilidade pessoal proteger o nosso coração (no coração aloja-se os desejos, os sonhos, as vontades, sentimentos e etc.) de influências negativas – Nós regularmente devemos pedir a D-us para iluminar “os olhos do coração”, de acordo com a sua sabedoria e poder (ou seja, a verdade revelada na Torá e Escrituras) e transmitir o poder do Espírito Santo DEle ir transformando nossos desejos e afetos, para que estejam em conformidade com o caráter do Messias.
Por outro lado, a incredulidade leva a contaminação ou poluição, que é o processo natural de degradação que afasta a alma da presença Divina. Em outras palavras, o fluxo do Espírito pode ser obstruído por causa da incredulidade. Se confiarmos em nós mesmos, se confiarmos em nossas próprias habilidades para obter a vida espiritual e cura, podemos negar a necessidade de aproximar de D-us para a salvação, e assim enganamos a mesmos. Afinal de contas, a chamada “verdade” do coração expressa na verdade pouco mais do que um tolo sonho, como está escrito; ‘quem confia em seu próprio coração é um tolo (כְּסִיל), mas aquele que anda em sabedoria será livre.’ (Provérbios 28:26)
Observe que o tolo mantém a perspectiva iludida que o coração (ou sua intuição, “pois está sentindo”) poderá ‘trunfar’, e “espiritualmente falando” o coração é um lugar muito perigoso. Em outras palavras, este provérbio nos adverte contra uma “falsa subjetividade” ou autoengano, ou o “me engana que eu gosto”.
O coração deve ser cuidadosamente “protegido” porque constantemente procura desviar-se de D-us no lapso da idolatria egocêntrica. Como atestam as Escrituras: “O coração é enganoso acima de todas as coisas e desesperadamente doente; quem pode compreendê-lo?” (Jeremias 17:9). (Mateus 15:19).
Nós nunca devemos contar totalmente com nosso coração ou a intuição, que muitas vezes é propensa a auto justificação, ilusão, delírio e assim por diante… (Mateus 15:19, Romanos 8:7; Gálatas 5:17) Mas buscar Sabedoria – chochmah (חָכְמָה) Discernimento – Binah e Conhecimento – Daat e atender a verdade das Escrituras, buscando Adonay e seus conselhos, e confiando no Espírito de D-us para livrar a sua alma dos laços da morte – até mesmo dos laços ocultos à espreita dentro de seu próprio coração. Não por força, nem por poder, mas pelo Espírito do D-us vivo que o coração é guardado…

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