Shavuot (Pentecostes) com o povo judeu no Sinai

Shavuot (Pentecostes) com o povo judeu no Sinai

Questionar, em vez de duvidar, é a raiz de todo o conhecimento.
 
Shavuot
[Shavuot (Pentecostes) que começa 14 de maio, ao por do sol, deste ano 2013…].
 
Durante a Festa de Shavuot (“Pentecostes”) nos lembramos de como Hashem (D-us) graciosamente condescendeu em se reunir com o povo judeu no Sinai, e como todo o povo ouviu a voz de D-us (קוֹל אֱלהִים) falando a partir do meio do fogo (Deut. 4:33). Este evento incrível prenunciava o grande advento do Rei e Legislador, quando o Verbo Eterno, ou seja, a Memrá (דְבַר יְהוָה) se humanizou para habitar entre nós (Filipenses 2:6-7; João 1:1,14), e prenunciou mais o advento do Espírito da Verdade (רוח קודש) dado aos Talmidim e a grande multidão de devotos – חסידים(Atos 2:) em Jerusalém. De fato, o Verbo Eterno, ou seja, a Memrá (דְבַר יְהוָה) tornou-se Imanu’El (עִמָּנוּ אֵל), para partilhar a nossa condição mortal, para conhecer a nossa dor, e experimentar o que significa ser ferido pelo pecado, ser rejeitado, abandonado e etc.
 
O Verbo Eterno, ou seja, a Memrá(דְבַר יְהוָה) humanizado preenche a lacuna entre a realidade de Ein Sof (אין סוף), o Infinitamente transcendente D-us , e o mundo finito de pessoas perdidas dentro de sua fragilidade humana e pecadora.
Claro! Obvio! Acreditamos que Adonay Echad (יְהוָה אֶחָד) – que ‘D-us é Um, e indivisível e não há nada além DEle’ (e não é um Ser Humano) – tanto no sentido de ser exaltado acima de todas as coisas, mas também no sentido de ser cheio de graça e verdade (חסד ואמת) envolvido em todas as coisas (Romanos 11:33-36, João 17:3).
 
Durante Shavuot (Pentecostes) celebramos a entrega da Torá no Sinai, e dentro de nossos corações. Nós celebramos que D-us é realmente O Rei do Rei dos reis (מלך מלכי המלכים) e Soberano sobre tudo (Mateus 6:9-10, Joao14:28, João 5:30 e etc.), mas nós afirmamos, ainda, que a autoridade e domínio de D-us (אלוהים) se estende a todos os mundos e universos possíveis – incluindo o âmbito da finitude, da doença e até mesmo da própria morte.
 
Um pasuk (פסוק) para Shavuot (שבועות) vem do profeta Isaías (הנביא ישעיהו).
כִּי יְהוָה שׁפְטֵנוּ יְהוָה מְחקְקֵנוּ
יְהוָה מַלְכֵּנוּ הוּא יוֹשִׁיעֵנוּ
‘Porque Hashem (יהוה) é o nosso juiz, Hashem (יהוה) é nosso legislador; Hashem (יהוה) é o nosso Rei, e nos salvará’. (Isaías 33:22)
 
O clímax da Torah dada no Sinai foi a revelação do Santuário (ie, do Tabernáculo, mas tarde o Templo), onde o sacrifício diário de um cordeiro sem defeitos (ie, korban tamid: קָרְבַּן תָּמִיד) era oferecido sobre o altar com Matzá (Pão sem fermento) e vinho (Números 28:1-8), aludindo claramente a grande “Páscoa do Cordeiro de D-us” que estava por vir … As duas tábuas da lei, que tinham as dez Palavras (mandamentos), eram armazenadas dentro da Arca da Aliança (ארון הברית), o lugar mais interno do MishkanTabernáculo, (אֲרוֹן בְּרִית יְהוָה). Como tal, a Arca (ארון הברית) serviu como um símbolo do Kisei Hakavod (כִּסֵּא הַכָּבוֹד), o Trono da Glória. Ele estava totalmente à parte, como o único mobiliário colocado no Santo dos Santos (קדֶשׁ הַקֳּדָשִׁים).
 
Sobre a tampa da Arca (ie, o kaporet) haviam dois querubins (ou seja, figuras de anjo ou similares), que encaravam um ao outro (Êx 25:17-18). De acordo com nossos registros, (Talmud Sucah 5b), cada Keruv (כרוב) tinha o rosto de uma criança – um menino e uma menina – e suas Kanafi’im (asas) aos céus (Êx 25:20). … Todos os anos, durante o serviço de Yom Kipur, sangue sacrificial era aspergido sete vezes sobre a tampa da arca (Kaporet).
 
Como uma pessoa pensa em seu interior, assim ela é’… Porem muitas vezes vemos o que queremos ver mais do que o que realmente está lá. Isso é chamado de ilusão ou autoengano.
Nós negligenciamos muito, e nós, muitas vezes ignoramos o que poderia desafiar as nossas próprias interpretações preferidas.
 
Por exemplo, podemos pensar que estamos confiando em D-us em nossas vidas, mas se preocupamos demasiadamente, tentarmos controlar e manipular os outros, ficarmos instáveis demais, e assim por diante, temos um ponto cego em relação à questão de saber se realmente confiamos em D-us. Afinal, e se nós realmente não acreditamos? E se esforçamos demais para acreditar? O que isso diz sobre quem somos?
Muitas vezes, porém, a verdade “do ser interior” deve vir à custa de sofrimento, pois certamente o coração deve doer, tremer e desesperar antes ser tratado e de aceitar a verdade sobre sua condição. Este tipo de verdade é “existencial”, o que significa que só é conhecido através do processo de viver a própria vida.
Eis que desejas que a verdade esteja nas partes internas; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no oculto da minha alma.’  Salmo:51:6 
 
Nota-se que as ‘partes internas’ (טֻחוֹת) – Jó 38:36, salmos 51:6 – referem-se aos ‘rins’, (כליות) que se pensava ser “as rédeas” ou o molde, (ie, te’ach: טִיחַ) a fonte da vontade dentro da pessoa. Curiosamente, a palavra para ‘interno’ vem do verbo tachah (טָחָה), que significa ‘atirar com um arco’ Gênesis 21:16 –, aludindo à ideia da Torah no interior da pessoa como um poder diretivo para a vida dela.
D-us quer que “as partes internas”, as partes ocultas da alma (נפש), sejam preenchidas com sua Torá (instrução e verdade, juízos e testemunhos) e, portanto, Davi pede a D-us para fazê-lo conhecer a sabedoria lá – no “no oculto da alma” – para que ele possa apreender a verdade de D-us e fazer teshuvá (arrepender-se) que purifica o âmago do ser.
 
A arrogância cega à alma. Como o Rabino Abraham Heschel (1907-1972 EUA) disse: “Em uma polêmica, no instante em que sentimos raiva, nós já deixamos de lutar pela verdade e começamos a lutar por nós mesmos”.
A verdade não precisa de contendas. Se nos encontramos na situação de ficar na defensiva… ou hostis ou rancorosos e etc…, é preciso dar um passo para trás e nos perguntar sobre o que nós realmente acreditamos, pois sempre podemos nos pegar agimos fora do que nós acreditamos … Se procurarmos usar a verdade como uma arma, ou como um meio de racionalizar a nossa autovontade, então nós não estamos ‘na verdade’, mesmo que os nossos fatos sobre a questão possam estar corretos. Devemos ter cuidado para não nos encontramos usando a verdade para causa própria ou escusos interesses. ‘A soberba precede a destruição, e a altivez precede a queda’. (Provérbios 16:18)
 
O Kotzker Rebe (1787-1859 Polônia) foi convidado para ensinar como evitar o pecado. Ele respondeu: ‘se não formos capazes de evitar ofensas, temo que cairemos em um pecado ainda maior – o da arrogância’ (ditado hassídico). O antídoto para a arrogância, altivez… orgulho é a “queda da alma”, isto é, aquelas que aceitam os erros e fracassos dolorosos que nos trazem de volta à realidade – ou seja, o lugar de quebrantamento e a nossa necessidade de intervenção Divina na alma…
 
Foi ensinado: “Testem-se para ver se vocês estão na fé (ou fidelidade)” (2º Coríntios 13:5). Devemos olhar com coragem para nossas vidas e fazer algumas perguntas difíceis. Realmente acreditamos que ‘é a verdade’, ou existem outros motivos para tal devoção ou adoração? É possível pensar que realmente acreditamos, quando na verdade não.  Este é um problema mais grave do que a hipocrisia (não acreditando no que nós dizemos), isso acontece o tempo todo.
 
A grande maioria das pessoas; pensa que estão “acima da média” e tem uma opinião elevada de si mesma. Autoestima é importante, claro, mas deve ser fundamentada na realidade: “Pois, se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gálatas 6:3, Mt 7:22-23).
Por si só, a sinceridade não é nenhum parâmetro para a verdade, já que podemos ser verdadeiramente sinceros, e ainda sinceramente errados… Alguns exemplos de nosso autoengano incluem: pensar que somos verdadeiramente humildes, em relação a nós mesmos como honestos ou fieis, dizendo que vamos fazer alguma coisa para alguém, mas “esquecendo-se de fazê-lo”; pensar que temos todas as respostas para tudo e pra todos ou somos um dom de D-us para o mundo, e ao mesmo tempo fugimos da responsabilidade para as necessidades de outras pessoas, culpando os outros pelos nossos problemas, erros e fracassos… fingir que pensamos por nós mesmos quando estamos repetindo ideias preconcebidas de outras pessoas sem nenhuma atitude critica das mesmas…;
 
‘Autorrespeito é o fruto da disciplina, o senso de dignidade cresce com a capacidade de dizer não a si mesmo’.
Rabino Abraham Joshua Heschel(1907-1972 EUA)

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