uma qualidade primordial do coração

uma qualidade primordial do coração

A palavra hebraica para paz é shalom (שׁלוֹם), uma palavra que significa ‘plenitude’, ‘totalidade’, ‘completude’, ‘bem-estar’ e ‘estar inteiro’ – e não apenas a ausência de conflitos ou guerras. Muitas vezes as pessoas brigam umas com as outras, porque elas não estão em paz consigo mesmas dentro de si. Assim como não podemos amar os outros até que primeiro aprendemos a amar a nós mesmos, por isso não podemos ter paz com os outros, até que primeiro encontremos a nossa própria cura interior e paz.

Muitas vezes isso significa aprender a perdoar a nós mesmos e aos outros (incluindo D-us) sabemos que podemos deixar ir quaisquer problemas no nosso coração. Como aceitar a nós mesmos e deixar ir o nosso medo, aprendemos a aceitar os outros e deixar a necessidade de ficar sempre na defensiva. Como Yeshua (ברוך הוא וברוך שמו) ensinou: ‘Bem-aventurados (felizes) são aqueles que amam a paz – porque eles serão chamados filhos de D-us.’
אַשְׁרֵי עשֵׂי שָׁלוֹם
כִּי בְּנֵי אֱלהִים יִקָּרְאוּ
Ash’rei osei shalom
Ki benei Elohim yikaeru (Mateus 5:9)
Na maioria das traduções, lemos: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de D-us.” Note, no entanto, que a palavra grega traduzida como “pacificadores” (εἰρηνοποιοί) também pode significar “aqueles que amam a paz”, isto é, aqueles que anseiam por Shalom e buscam (veja Salmo 34:14).

No ensino da ética judaica ate os dias de hoje, buscar a Shalom (plenitude, paz) é chamado de Redifat Shalom (רְדִיפַת שָׁלוֹם) e é considerada uma qualidade primordial do coração, ou seja, dos ‘frutos do espírito’. O Rabino Hillel (110 AC) é ensinava dizendo: ‘Sejam discípulos de Aaron, amando a paz e buscando a paz’ (Talmud; Pirke Avot 1:2). Antes que possamos ter esperança de fazer a paz (שלום) com os outros, no entanto, é preciso primeiro conhecer a nossa paz interior. Se ameaçarmos esta Shalom (שלום), nos levantamos contra D-us, e prejudicamos assim a Sua vontade em nossas vidas. Aqueles que amam a Shalom (paz) serão chamados de Benei Elohim (filhos de D-us).

A Shalom (שלום) é o alicerce da grande obra de libertação de D-us em nossas vidas. O Messias é chamado Sar Shalom (שַׂר שָׁלוֹם), o ‘Príncipe da Paz’ (Is 9:6), uma vez que a salvação (הגאולה) traz a reconciliação (ou seja, a plenitude) entre D-us e o ser humano (Romanos 5:1) e nos liberta do medo da condenação. Quando andamos na Shalom de D-us (שְׁלוֹם הָאֱלהִים),‘que excede todo o nosso entendimento’, que têm o poder de ser uma bênção para os outros em nossa vida. ‘O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que promovem a paz’ (Tiago 3:18). Porque só podemos ter a paz através da pratica de justiça? Porque ambas andam juntas. É impossível para uma sociedade estar em plenitude e em paz se sua justiça é perversa ou inaplicável.

Nós entendemos a Mitzvá (mandamento) de D-us na Torá, ‘Não furtarás’ (לא תִּגְנב) porem isto pode implicar mais do que ‘ser proibido de roubar dos outros’, porem isto também inclui a proibição contra roubar de nós mesmos por não praticar a honestidade interior. Quando mentimos para nós mesmos, “roubamos” a verdade, racionalizamos o que é injusto, e, assim, nós nos privamos da grande bênção da paz interior.

De fato, os nossos sábios há tempos ensinavam o que constitui o roubo que é essencialmente todos os pecados. Por exemplo, em sua discussão sobre teshuvá (arrependimento), Maimônides (1138–1204 Espanha) observa a confissão do pecado quando se está relacionado com o roubo (Números 5:7). Rabi Yitschac Gur (1798–1866 Polônia) perguntava-se: ‘Na medida em que há 365 proibições da Torá, por que na Torá escolhe-se especificar a necessidade de confessar o pecado no que diz respeito ao roubo?’… Ele passou a responder, explicando que; ‘se alguém pede algo para um uso específico, ele não está autorizado a utilizá-lo para qualquer outro fim que não o especificado, para não abusar do privilégio e “roubar a utilização” do item’. Da mesma forma, D-us empresta à alma humana a capacidade de falar, ouvir, ver, e assim por diante, para o bem de viver uma vida significativa. Se abusarmos dessas coisas, por exemplo, usando nossos lábios e língua para falar maledicências, o lashon hará, nós estamos usando nossas faculdades para um fim diferente do que D-us pretendia, e que constitui um roubo’.
Por isso, todo o pecado é uma forma de roubo, um ato de “quebrar a fé com Adonay”, e é por isso que na Torá é mencionada a necessidade de confissão do pecado em conexão com o roubo.

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