‘Veja (רְאֵה), eu ponho diante de vocês hoje bênção e maldição
Em nossa porção de leitura Torá desta semana Re’eh (Deuteronômio 11:26 – 16:17), Moisés continua seu grande discurso de despedida, dizendo ao povo que se eles renderem à vontade de D-us, Ele lhes trará grande bênção, enquanto se recusarem a ceder, isto lhes trará perdas …
Começa assim: ‘Veja (רְאֵה), eu ponho diante de vocês hoje bênção e maldição (בְּרָכָה וּקְלָלָה): a bênção, quando você prestar atenção aos mandamentos (מִצְוֹת) de Adonay vosso Deus, que hoje te ordeno, e a maldição, quando vocês se recusarem a ouvir os mandamentos (Mitzvot) de Adonay vosso Deus…’ (Dt 11:26-28).
No texto hebraico, notamos que a palavra Re’eh (רְאֵה) é singular, Enquanto que o seguinte pronome é plural (“diante de vocês hoje”), que salienta que embora a Torá seja dada livremente a todos ‘que tem ouvidos para ouvir’, porem escolher a vida (חיים), a bênção é de nossa própria responsabilidade pessoal (Dt 30:19).
A mudança do singular para o plural também implica, ainda, que é nosso dever ir além dos nossos próprios interesses e estender o cuidado a outras pessoas, uma vez que somos membros da família de D-us (מִשׁפָּחָה). Esse pensamento é às vezes expresso através do hebraico na frase Kol Yisrael arevim zeh bazeh (כָּל יִשְׂרָאֵל עָרֵבִים זֶה בַּזֶה), “todo o Israel é responsável um pelo outro”. Este é um valor fundamental no judaísmo – para preservar e proteger a comunidade judaica e para ajudar cada pessoa a manter sua identidade judaica e responsabilidade com um outro judeu.
A máxima amplamente aceita pelos nossos Sábios (החכמים) no Talmud é que: “Tudo está nas mãos de D-us, “exceto” o temor aos Céus {a D-us (yirat shamayim)}” (Talmud; Berachot 33b; Niddah 16b). Em outras palavras, embora D-us constantemente rega o mundo com graça e luz, ele não nos “força” a reverenciar a Sua Presença, mas sim deixa essa escolha com a gente.
D-us poderia subjugar a todos nós para que não tivemos escolha para temê-lo e reverenciá-lo, mas Ele “retira, contrai” a si mesmo e restringe sua influência em nossas vidas, para que possamos exercer fé, fidelidade e livre escolha.
A palavra hebraica para ver (ראה) e a palavra para temer (ירא) partilham a mesma raiz hebraica. Nós não podemos realmente “escolher a vida” sem realmente vê-la pessoalmente, mas não podemos vê-la sem a reverência (ירא) a D-us. A reverência, o temor a D-us santifica a nossa percepção e nos permite ver claramente. Portanto, entendemos que o justo (Tzadik) ‘anda pela fé e não por vista’.
Neste contexto, a nossa porção da Torá também ensina a importância de ajudar os outros que estão em necessidade: ‘Se houver entre vós uma pessoa necessitada… você não deve endurecer o seu coração, nem fechar a mão’ (Dt 15:7).
Na verdade praticar a compaixão evoca compaixão dos Céus para a nossa própria vida, como se diz, “quem é generoso para com os necessitados empresta a D-us, e Ele vai recompensá-lo por sua ação.”
Quando damos, sem qualquer esperança de reembolso isto é contado como se a nossa doação fosse dada diretamente para o próprio D-us, e o próprio Gracioso D-us promete reembolsar completamente o ato de Tzedaká (צְדָקָה, “caridade”, fazer justiça) e bondade. D-us oferece “garantia do empréstimo”, por assim dizer, que será reembolsado neste mundo, seguramente, e no mundo por vir… Este é outro exemplo do principio bíblico ‘midá keneged midá’ (medida por medida). (Lucas 6:38; 2 Coríntios 9:6).
Portanto, somos ordenados a dar Tzedaká (צְדָקָה, “caridade”, fazer justiça), não porque é “certo”, mas porque é justo e porque é bom, porque é baseado no amor e cuidado de D-us para os outros.
Algo que é justo, em outras palavras, é porque expressa a verdade moral sobre o amor de D-us. Como é esclarecido; ‘o Universo é construído em Chesed – Graça (חֶסֶד)’ (Salmo 89:3).
Praticando a bondade é a motivação subjacente para a adesão a todos os mandamentos (מִצְוֹת) de D-us, pois sem a motivação interior do amor e da bondade, não vale a pena qualquer outra coisa que na Torá poderia se ensinar.
Lemos: ‘Mas procurarão o lugar (הַמָּקוֹם) que Adonay, o seu D-us, escolher… Para lá vocês deverão ir’ (Deuteronômio 12:5). Os sábios notaram que a gematria para este verso (isto é; 5150) é o mesma que; ‘Gravem estas minhas palavras no coração e na mente…’ (Deuteronômio 11:18), o que mostra, portanto, que a Presença Divina, HaMakom (הַמָּקוֹם), o Templo Sagrado, sempre foi destinado a ser manifestado dentro do nosso coração e alma …
‘o temor do D-us’ é dito ser o início da sabedoria; todos os que cumprem os seus preceitos revelam bom senso. Ele será parabenizado para sempre! (Salmo 111:10; Provérbios 19:23) As escrituras claramente declararam que; o Temor a D-us leva a vida’ – ‘O temor do S-nhor conduz à vida; e mal nenhum o visitará’.
A palavra hebraica Yirat traduzida em muitas versões da Bíblia é Temor, mas a palavra Yirat tem um alcance de significado muito maior nas Escrituras Sagradas. Às vezes refere-se ao medo que nos sentimos em antecipação de algum perigo ou de sofrimento, mas também pode indicar admiração ou reverência. Neste último sentido, a palavra Yirat inclui a idéia de maravilha, espanto, mistério, admiração, gratidão, e ate mesmo adoração (igual a um sentimento que começa quando nós admiramos algo maravilhoso).
Então ‘O Temor a D-us’, portanto, inclui uma esmagadora sensação de glória, dignidade, e a beleza no único verdadeiro D-us.

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