Historicamente, o verão tem sido um tempo de luta e aflição amarga para o povo judeu. De fato, em meio ao calor e sol da temporada no hemisfério norte, judeus observantes guardam um tempo para uma recordação triste, de quando os muros de Jerusalém foram atravessados, e a queda do Beit HaMikadesh (Templo), e do longo exílio do povo judeu. O meio do mês de Tamuz, em particular, logo após o solstício de verão em Israel, é considerado um tempo ameaçador, uma vez que está associado a várias calamidades que aconteceram ao longo dos séculos.
Na tradição judaica, Moisés quebrou as tábuas no décimo sétimo dia do mês de Tamuz, depois que ele desceu do Sinai e encontrou o povo adorando o bezerro de ouro. Esta tragédia foi vista como profética, uma vez que foi nesta mesma data que os muros de Jerusalém foram destruídos pelos exércitos invasores de Nabucodonosor (veja 2º Reis 25:2-7), um evento que levou à destruição do Templo (בית מקדש) e o exílio do povo, três semanas depois, isto é, no 9º dia de Av. Nos dias de hoje, décimo sétimo dia de Tamuz é comemorado como um dia de jejum (isto é, o “Jejum do 4º mês”) que marca o início do período de três semanas de luto pela perda do Templo em Zion (Sião)…
A leitura da Torá para o décimo sétimo dia de Tamuz é a mesma que nos outros dias de jejum (ou seja, Êxodo 32:11-14; 34:1-10.) Onde Moisés apela para a misericórdia de D-us após o pecado do Bezerro de Ouro.
Uma vez que o período de três semanas a partir do dia 17 de Tamuz até o dia 9 de Av representa a temporada, quando o Templo foi destruído e o povo foi exilado da Terra Prometida, isto é; Eretz Israel, ele é chamado de Yemei bein haMetzarim (יְמֵי בֵּין הַמְּצָרִים), “os dias no meio da angustia“, uma frase tirada diretamente do Livro das Lamentações (Eichá):”Judá foi levado ao exílio… Todos os que a perseguiram a capturaram em meio a sua angustia.” (ie, bein haMetzarim: בֵּין הַמְּצָרִים) .
A tradição judaica marca estas três semanas como um período de luto nacional, e todas as leituras semanais dos profetas (Haftará) alertam o povo sobre o julgamento iminente dos Céus. “Espiritualmente”, a época é marcada por um chamado para Teshuvá (arrependimento).
Na verdade, o sábado antes de Tishá BeAv (9 de Av) é chamado de Shabat Chazon, por vezes referido como o “sábado da visão”, porque as palavras do profeta Isaías, que são recitadas duramente denunciam a apostasia do povo na época (Isaias 1:1-17).
Porque este é um momento tão sóbrio para o povo judeu, o Livro das Lamentações (Megilat Eichá) e recitado durante o serviço religioso (culto) da noite nas Sinagogas ao redor do mundo.
As lágrimas do profeta Jeremias (הנביא ירמיהו) representam o amor compassivo de D-us para o povo judeu; o Livro das Lamentações (מגילה איכה) é realmente um “pranto de D-us”… D-us se preocupa com o sofrimento de seu povo: b’kol tzaratam lo tzar (בכל צרתם לא צר) – “Em toda a angústia deles foi Ele angustiado” (Isaias 63:9).
Mesmo depois de todos os horrores que se abateram sobre o povo de Judá devido ao julgamento disciplinar de D-us, Hashem (D-us) ainda encorajou-os a procurá-lo novamente. “Pela Graça de Adonay (חַסְדֵי יהוה) é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a sua fidelidade!” (Lamentações 3:22-23).
Note que; a palavra “aflição, angustia, tribulação”, isto é; Metzar: (מֵצַר) vem da raiz hebraica Tzará (צָרָה) que significa “estreito ou restrito”, a palavra moderna para problema ou aflições é “tsuris“.
Enquanto que a palavra “libertação” ou “salvação” isto é; yeshuá: (יְשׁוּעָה) significa “ampliar” ou “fazer o suficiente.” Essas duas idéias podem ser vistas em um versículo do Salmo: “Na minha angústia (מן המצר) clamei Adonay; e Adonay me respondeu, pondo-me num lugar espaçoso.” (Salmo 118:5). Entre outras coisas, a libertação {salvação (יְשׁוּעָה)} é sempre uma transição daquilo que nos prende, restringe, limita para algo mais amplo…
A Mishná (Tratado Ta’anit 4:3), enumera cinco tragédias específicas que ocorreram no dia 17 de Tamuz:
As Tabuas (לוחות) em que os “Dez Mandamentos” foram escritos foram quebradas neste dia, quando Moisés desceu do Sinai e encontrou os judeus adorando o bezerro de ouro.
- O Korban Tamid (sacrifício diário) foi interrompido neste dia, pouco antes da destruição do primeiro Beit HaMikadesh (Templo), porque Jerusalém estava sob um estado de sítio pelos babilônios.
- As muralhas de Jerusalém foram quebradas pelos romanos (sob o comando de Tito) antes da destruição do segundo Beit HaMikadesh (Templo).
- O rei Manassés, um dos piores dos reis judeus, colocou um ídolo no Santuário Sagrado do Templo nesta data (2º Reis 21:7).
- A Torá foi queimada neste dia por Apustemus, um opressor grego que servia a Antíoco Epifânio, um homem que se dizia deus encarnado.
Além das tragédias listadas na Mishná, há mais cinco tragédias recentes que ocorreram com o povo judeu em 17 de Tamuz;
- Em 1239, o Papa Gregório IX ordenou o confisco de todos os manuscritos do Talmud.
- Em 1391, mais de 4.000 judeus espanhóis foram mortos em Toledo e Jaén, na Espanha.
- Em 1559 o bairro judeu de Praga foi queimado e saqueado.
- Em 1944, toda a população do gueto de Kovno foi enviada para os campos de extermínio.
- Em 1970, a Líbia ordenou o confisco de todos os bens dos judeus.
Há quatro dias de jejuns (tzomot) no calendário judaico, com base em Zacarias 8:19. Cada um destes dias de jejum está relacionado a algum aspecto da perda do Templo em Jerusalém.
Assim diz Adonay Tzeva’ot; o jejum do 4º mês, e o jejum do 5º mês e o jejum do 7º mês, e o jejum do 10º mês, se convertera em gozo e alegria e festas solenes (Moedim) para a casa de Judá; por isso, ame a verdade e a paz (Zacarias. 8-19).
Ou seja:
O jejum do quarto mês [17º de Tamuz – quebra dos muros de Jerusalém] e o jejum do quinto [9º de Av – destruição dos 2 Templos ], e o jejum do sétimo [3º de Tshrei Tzom Gedaliah (ou Yom Kipur], e o jejum do décimo [10º de Tevet – cerco de Jerusalém] serão para a Casa de Yehudá júbilo, felicidade e dias festivos.


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